Não me parece que “Mira” seja um nome de terra portuguesa demasiadamente complexo ou esquisito. Antes pelo contrário, afigura-se-me bem simples e bem português, não obstante o vocábulo “mira” possa assumir diversas acepções nos dicionários: acção de observar, de mirar; peça para regular ou dirigir a pontaria; objectivo, alvo que se deseja atingir; desejo, interesse; sinal fixo no solo, estaca, baliza… que serve de referência para ser percebido à distância; imagem de controlo televisivo; vigia, atalaia; etc.. Outros topónimos há de construção bem menos vulgar e para os quais não existe um significado próprio e direto, tais como “Minde”, “Ourém” ou mesmo “Leiria”.
A Toponímia, socorrendo-se da história e da geografia dos lugares, explica frequentemente a formação desses nomes rebuscando influências vindas dos idiomas falados pelos povos que, através dos séculos, ocuparam a Península, sobretudo o latim e o árabe. Assim se explica, por exemplo, que “Porto de Mós” derive do geónimo romano Porto Molarum, numa referência ancestral à produção de mós na região e respectivo transporte pelo rio Lena, então navegável. E que “Alcaria”, entre uma grande quantidade de topónimos portugueses iniciados pela sílaba “al” de origem inegavelmente mourisca, provenha do termo árabe al-gariya que significa «vila ou povoado pequeno».
Porém, o que nos parece simples à primeira vista não tem sido consensual para estudiosos e opinantes na matéria. Ao pesquisar o porquê de se ter batizado este pedaço de terra com o nome de “Mira”, descobri quatro hipóteses principais, muito bem distintas entre si e que aqui apresentarei por ordem cronológica do seu aparecimento na historiografia local. Não resisti a intercalar-lhe da minha lavra outras três, decorrentes das primeiras, ou seja, ao todo apontarei sete hipóteses para a origem do topónimo “Mira”, fruto de um trabalho que publiquei no mensário Voz de Mira de Aire em cinco artigos, de setembro de 2008 a janeiro de 2009, sob o pseudónimo Aires de Miro.
Sublinho desde já que a génese etimológica que considero mais consistente é a de que “Mira” provem de «grande olho de água», suportando-se esta minha convicção na opinião de especialistas em filologia ibérica, que defendem ser o vocábulo “mira” um hidrónimo (nome de rio ou outro curso de água) com origem nos idiomas primitivos da Europa anterior aos Romanos e eventualmente aos Celtas. O certo é que na Península Ibérica existem vários rios Mira e diversas localidades, serras, vales e lugares com o mesmo nome, que se encontram nas proximidades de rios e nascentes ou em zonas ribeirinhas.
Passo a enumerar o hepta-conjunto de hipóteses, podendo os interessados seguir as respetivas hiperligações para acederem a uma informação mais completa.
1.ª Hipótese – Myra, cidade da Ásia Menor
2.ª Hipótese (decorrente da 1.ª) – Mira, sede de concelho do distrito de Coimbra
3.ª Hipótese – Mira, grande olho de água
4.ª Hipótese (decorrente da 3.ª) – Mina, nascente de água
5.ª Hipótese – Villa Mira, “Mira e Mirão”
6.ª Hipótese – Mira de mirar, ver, ponto de referência
7.ª Hipótese – (decorrente da anterior) Mira de mirante, miradouro, atalaia ou vigia