Eu já não vivo aqui.
Procura-me
onde as árvores desenham círculos de sombra no musgo,
ou onde os trilhos bifurcam indiferentes,
ou no meio de clareiras de laje
com rebordos de pedra miudinha
cinzenta e branca como o céu nos dias em que quase chove.
Procura-me no sopé da Costa
ou no descampado de ares fortes
misturados com o aroma da macela quando a pisas
amarela
e levemente amarga, inebriante
de tão calma.
O meu lugar agora é este
a povoar os caminhos da mata,
a contornar o bosque de espinheiras
(tão alvas na Páscoa)
ao pé das figueiras tortas,
das silvas de amoras gordas.
Estarei a comer figos e marmelos
sobre uma rocha.
Procura-me a espreitar os patos e os cavalos,
galgando os sulcos gretados e a lama seca,
a rodear as lagoas e os algares
e a desbravar lugares escondidos
que só eu descubro,
com o meu peito feito de chumbo
e os meus olhos lotados de poejos e margaridas.
E a serra a cair-me em cima.