O mapa antigo
Tenho um amigo que tem o vicio desde menino de colecionar objectos, devo-vos dizer que é um vício apaixonante, como todos os vícios o devem ser, só que este é mais saudável e enriquecedor do que a maioria.
Não me quero desviar do assunto, o meu amigo tem vários mapas de várias geografias e de épocas distintas. Entre os quais diversas cartas militares de outras épocas.
O que neste mapa me despertou a curiosidade é que apenas um caminho assinalado atravessa a nossa Mata, acredito que houvessem muitos outros, mas este seria aos olhos do cartógrafo, o principal. O que me levou a perguntar, onde é que está este caminho tão importante, é que não me lembro de uma diagonal destas nos meus passeios pela mata?
A época
Na época deste mapa em questão, Portugal ainda estava de ressaca das invasões Francesas, que deixaram um rasto de destruição pois os soldados Franceses após a derrota de 1810 na Batalha Buçaco tiveram uma política de terra queimada. No nosso território estima-se (segundo dados da diocese de Leiria) que 1/3 da população terá sido dizimada nesse processo. Contam-se até histórias que parte da população se terá refugiado em grutas, nomeadamente no Regatinho. Mas não é o objectivo deste artigo explorar essas histórias, só queria enquadrar este tema.
Dimensão de aldeias
No mapa pode se ver a dimensão das duas freguesias, Minde com um núcleo habitacional que não deve fugir muito do que hoje chamamos Alto Pina e na Mira algumas casinhas no Poio e outras no Casal (ao que hoje em dia chamamos o centro, note-se que o Poio é a zona mais antiga da Mira.
Será que o caminho sobreviveu?
Usando imagens de cartas militares, sobrepus as imagens do mapa de 1866 e um mapa de 1969. Sabendo que as técnicas de topografia terão melhorado muito nesse período de 100 anos, nomeadamente com a ajuda de fotografias aéreas, escolhi esticar e encolher os mapas de forma a fazer coincidir as nascentes do Olho e da Pena (em Minde chamam-lhe nascente do Poio) nos dois mapas, e aqui fica o meu resultado de amador.
O caminho em 1969 ainda lá estava, portanto é de crer que com o abandono da actividade agrícola com a industria enquanto motor económico das duas terras, o caminho tenha sido tomado pela natureza.
As Capelas
Tenho a sorte de ter um primo que trabalhou para o Instituto Cartográfico do Exercito e que trata os mapas por tu. Vou lhe chamar apenas João, pedi-lhe ajuda para me ajudar nesta demanda.
Ele lá fez a magia dele com a ajuda de tecnologias de geo referenciação e a conclusão dele foi algo que me surpreendeu. Este caminho juntava as Capelas de S. Sebastião à Capela de Nossa Senhora da Boa Morte. Fiquei surpreendido pois não me tinha obviamente ocorrido tal hipótese que agora me parece óbvia (como dizem as minhas filhas.. Daaahhhhhh). No contexto serrano de pequenas aldeias em 1866 qual seria o caminho mais importante? Sem dúvida que seria a ligação dos centros dos lugares, normalmente assinalados por edifícios religiosos.
Aguarelas Mindricas
Nem de propósito, a nossa amiga Magda Reis partilhou connosco por estes dias uma página de Aguarelas Mindricas, de Francisco Madeira Martins, aqui fica a ideia de uma cultura em comum, ligada à devoção.
Para terminar deixo-vos a imagem de satélite com a possível localização do tal caminho que carinhosamente chamei de Mira-Minde 1, ou para simplificar MM1.