O ser humano é um animal um bocado diferente dos outros, é certo que somos esquisitos em muita coisa, diferenciamos-nos das outras espécies pela nossa inteligência e pela nossa extraordinária capacidade de comunicação e de imaginação. Acredita-se que a comunicação verbal foi uma característica que desenvolvemos e que se tornou uma vantagem competitiva perante as outras espécies… pelo menos foi dessa forma que arrumei essa matéria da escola aqui dentro da minha memória já faz uns anos.
Na sua necessidade de comunicar entre si o homem teve de dar nomes as coisas e uns aos outros, convenhamos torna o processo de comunicar mais facil. Para enquadrar esta matéria existem dois ramos de conhecimento, a Toponímia que significa, nome de lugar e a Etimologia que é a parte da gramática que trata da história ou origem das palavras.
[Saltar a minha motivação pessoal, arrepiar caminho]
Não sei bem porque me comecei a interessar por estas matérias, mas sempre me interessou este assunto da origem da coisas. Uma das primeiras angustias (se é que lhe possa chamar isso) que afloraram durante o meu crescimento enquanto gente foi precisamente devido ao meu ultimo nome. Passo a explicar o meu nome de família é TRISTÃO, e enquanto criança havia sempre aquela piadinha. És muito triste, não te chegava ser triste tinhas de ser Tristão… LOL e depois era isso de forma repetitiva, principalmente depois do 5º ano com as apresentações verbais aos novos “Profs“, ou como se dizia no meu tempo “Stôres“…
Um Momento AHHHH
Não me lembro bem quando foi, mas já foi no tempo desta maravilhosa tecnologia chamada internet, devia de andar pelos meus trintas e ocorreu-me procurar a origem do meu nome. Afinal não tem nada a ver com tristeza (pasmem-se) Tristão é um nome de origem Celta (Drust) (Drestanus) que significa “o tumultuoso”, aliás a mesma etimologia da palavra Stress (Drest). Nem imaginam a felicidade que senti graças á etimologia. Já não andava na escolinha, mas agora quando faziam brincadeiras com o meu nome, sorria para dentro e pensava nem sabes tu o que vais ouvir agora ó seu piadolas…
Mira e Minde
Voltando para o assunto de base, a origem dos nomes dos lugares surgem geralmente por razões ligadas à história dos primeiros colonos por necessidade de identificação ou por razões de ordem política. Sendo mais provável que quando existe uma característica física (geomorfologica) do lugar muito diferenciada, seja natural do senso comum baptizar o lugar com o nome que o distingue. Não sei se estão a ver onde quero chegar, mas este nosso lugar é bastante único em termos de natureza com o nosso polje a encher de água e com aquele paredão da Serra dos Candeeiros(*) que mais parece uma muralha, ou com as grutas que ora cospem a água ora a engolem.
Os Hippies da Finlândia
Há uns anos apareceu aqui pelo polje um casal de hippies, acamparam na mata e estavam encantados com o nosso lugar. Depois cai uma chuvada daquelas de chegar a roupa ao pelo e de repente estavam abancados em casa do Paulinho da Gena ( o meu irmão, filho da Gena da pastelaria, para quem não me conhece). Dai surge uma amizade e umas conversas pela noite fora, afinal o Janne era Antropólogo (Daqueles que estudam das origens dos homens e das culturas). Bem uma noite já bem tarde no seguimento da conversa que estávamos a ter sobre povos entre eles os Celtas, ele vira-se para mim e começa a gaguejar com os olhos muito abertos, ele tinha ligado duas ideias lá na cabeça dele e obviamente estava emocionado…
– Migoel, Migoel… Tu sabes como os Irlandeses chamam á sua terra?
– Ireland. Disse eu
– Sim, Eire + Land, como é que disseste se chama esta serra deste lado?
– Serra de Aire, respondi
– Não estás a ver? Aire e Eire (com pronuncia Irlandesa) foneticamente são a mesma coisa.
Quis partilhar este momento pois foi a primeira vez que pensei na possibilidade dos celtas terem batizado este território, que dizer nem fui eu, foi aquele Finlandês maluco. (Hoje em dia o Janne dá aulas numa universidade da Africa do Sul)
Da possibilidade Celta
Noutra altura ao explorar a origem dos Celtas, li que ao exumarem um cemitério com 5000 anos na Irlanda, alguns cientistas á luz das recentes técnicas do ADN, resolveram testar qual dos povos europeus da actualidade teriam o ADN mais semelhante. O resultado foi surpreendente.
O povo mais parecido com os Celtas da Irlanda eram os Portugueses e os Galegos actuais. Essa descoberta levou a que se estabelece-se uma nova teoria sobre a origem dos celtas. A teoria está ligada à ultima glaciação da europa, que ocorreu entre 100 mil anos e terminou há 12 mil…
Segundo essa hipótese, os nossos antepassados pré-históricos terão encontrado refugio na zona do mediterrâneo e foi a partir dai que com o descongelamento dos territórios os celtas, lentamente foram pela costa acima e colonizaram a Irlanda, a Inglaterra e a Escócia…
Esta Zona circunscrita pela linha vermelha, ajuda também a perceber a ligação que tem intrigado alguns linguistas entre a língua e cultura Celta da Irlanda e Pais de Gales e o Sânscrito e a Cultura Hindu, mas isso seriam outros trezentos… Se quiserem podem explorar mais sobre a teoria da Idade do Bronze Atlântica.
Hipóteses do nome Mira
Segundo algumas publicações escritas por ilustres Mirenses nas edições comemorativas dos Aniversários da Elevação a Vila (em 1933 ano em que deixou de ser Mira e passou a Mira de Aire, para ajudar a diferenciar da Mira do distrito de Coimbra) alguma possibilidades da origem do nome Mira seriam:
- Ligação a cidade de Myra na asia menor com a vinda dos primeiros colonos trazidos por Gualdim Pais
- Do verbo Mirar (Antigo Castelhano)
- Ligação ao nome do rio Mira e a outras terras ligadas a água como Odemira, Mira, Miróbriga…
Ao explorar estas hipóteses encontrei há uns meses uma publicação surpreendente. El hidrónimo prerromano Mira, por Rosa Pedrero
Revista de Linguística e Filologia Clássica.
Que em conclusão afirma:
Sin embargo, el hidrónimo que nos ocupa presenta ciertas peculiaridades que merecen destacarse. En primer lugar, a diferencia de otros hidrónimos, la forma Mira/Mera aparece restringida a un área concreta de la península, concretamente al área occidental y norte. La abundancia de este topónimo en Galicia, Portugal, Asturias y Cantabria, no tiene correlato con otras zonas de la peninsula. Por otro lado, la derivación a partir de sufijos de la hidronimia paleoeuropea no es abundante.
Rosa Pedrero
E ainda muito importante para a ligação que vou fazer a seguir:
A pesar de todo, creemos que se trata de un hidrónimo indoeuropeo perteneciente al estrato paleoeuropeo.
Rosa Pedrero
Conclusões que podemos tirar deste documento são:
- que o nome Mira trata-se um Hidrónimo (ligado a lugares com água com origens pré-romanas, do estrato paleo europeu)
- uma altura em que a língua seria provavelmente baseada em sânscrito, uma das primeiras línguas usadas pelo homem.
Hipóteses do nome Minde
Peço desde já desculpa aos meus manos de Minde mas o meu referencial não é muito vasto nem profundo, mas há alguns anos quando trabalhava em Minde um dia fui a uma delegação da Camara que funcionava no edifício do mercado e lá numa mesinha estava uma brochura produzida pelo Jornal de Minde.
Nessa brochura as escolhas seriam:
- Do latim Menendus, villa Menendi, casa do Sr. Mendo.
- Das invasões dos bárbaros, já que existe Minde na Noruega e Minden na Alemanha.
- Do vocábulo sânscrito mund, significando boqueirão, foz, relacionado com os algares por onde se escoa a água nos invernos mais chuvosos.
Se conseguiram ler até aqui facilmente perceberam que a hipotese que mais me atrai é sem duvida a explicação ligada ao fenómeno geomorfológico, que neste caso é Mund.
Fui atrás disso e consegui achar um dicionário de Sânscrito que corrobora a hipótese da brochura, Minde pode ser uma evolução da palavra Mund deste tempos pré-históricos.
Por mera curiosidade experimentei no mesmo dicionário a colocar a palavra Mira…
Uau!!!
Fiquei como o meu amigo Finlandês, a gaguejar e de olhos abertos, como se tivesse ligado dois neurónios improvaveis.
Num exercicio de imaginação, se conseguíssemos viajar no tempo 5 mil anos até 3000 A.C e perguntássemos a um habitante local como chamar á Mata Cheia de Água, ao que hoje chamamos Mar de Minde, ele poderia muito bem responder MIRA-MINDE.
(*)Correção sugerida pelo comentário de Luis Ferreira (efetivamente não se trata da serra dos Candeeiros, mas sim de uma das encostas do planalto da Serra de Santo António, subunidade geomorfológica do Maciço Calcário Estremenho)